25.4.17

As cartas foram lançadas e Clinton ganha a primeira ronda


Para os mais distraídos, a noite de Quarta-Feira (26) para Quinta-Feira (27) foi marcada pelo primeiro de três debates televisivos entre os candidatos das presidenciais norte-americanas de 8 de Novembro e, no fundo, aquilo que aconteceu foi isto: Donald Trump limitou-se a ser aquilo que sempre foi e facilitou o trabalho a Hillary Clinton.
Diz a tradição que o primeiro debate televisivo entre os candidatos à Casa Branca é o momento mais importante de qualquer campanha presidencial norte-americana e aquele que pode decidir o resultado das eleições - basta lembrar os efeitos surpreendentes daquele que foi o primeiro debate televisivo da história e que levou John F. Kennedy à vitória em 1960. E mesmo que se especulasse, logo à partida, que, independentemente dos resultados, este seria um debate irrelevante, a verdade é que records de audiências foram batidos e o “duelo” da noite passada foi o mais visto da história, acompanhado em directo por mais de 80 milhões de espectadores.
Os primeiros minutos foram equilibrados. De um lado, apresentou-se uma candidata calma, segura e preparada para os 90 minutos que se seguiam. Do outro, um Trump aparentemente moderado. “Aparentemente” porque a partir do momento em que se viu confrontado com questões que desviavam do discurso preguiçosamente preparado, o alter-ego impulsivo que todos conhecemos começou a procurar as luzes da ribalta e a certa altura tomou conta do palco. De tal forma que até ao controlo de Lester Holt fugia. Mas Clinton aproveitou o desleixo do republicano e vingou.
O discurso do magnata não começou mal, mas a falta de preparação fez-se notar na espiral de contradições e incongruências que, uma vez instalada, perseguiu Trump até ao final. E, a partir daí, a táctica escolhida foi a partida para os ataques directos, em que o republicano é especialista. O que não esperava era uma concorrente com respostas bem pensadas na ponta da língua e, por isso, nem aí foi capaz de sair por cima.
Entre desafios para divulgação de umas certas declarações de impostos, Donald Trump tentou escapar-se com justificações falsas. Entre propostas de partilha de uns certos e-mails, Hillary Clinton assume o erro e segue em frente. A atracção pela mentira volta a surgir uma e outra vez, nomeadamente quando Trump volta a acusar Hillary de ser responsável pelo Movimento Birther, de difamação de Barack Obama sobre o seu nascimento. Ou quando insiste na ideia de que nunca apoiou a invasão do Iraque. E Clinton, claro, não perde as oportunidades para o denunciar e descredibilizar.
Mas a grande resposta da ex-Primeira Dama surge quando Donald Trump a critica pela ausência da campanha durante os últimos dias, depois de ter desmaiado nas cerimónias do 11 de Setembro. "Penso que Donald acabou de me criticar por me preparar para este debate. E sim, preparei-me. E sabem para que mais me preparei? Para ser Presidente. E essa é uma coisa boa." Numa resposta só, Hillary consegue desviar as atenções daquilo que Trump pretendia trazer à baila - o estado de saúde da candidata -, e mostrar por que é a melhor escolha. No fundo, esta saída acaba, em parte, por resumir uma hora e meia de debate.
Sobre a grande maioria dos assuntos que atravessaram o confronto entre os candidatos - desde a economia e os níveis de emprego, à política de controlo de armas, passando por questões raciais, de terror e de segurança - o que tivemos foram dois candidatos em pólos bastante distintos. De um lado, uma candidata claramente mais bem preparada, que demonstrou um maior domínio sobre as várias questões, uma melhor capacidade de expor os seus pontos de vista, com recurso a factos e a números, e apresentou propostas mais completas. Do outro, um candidato repetitivo, incongruente e impulsivo, que parece fazer e dizer as coisas sem ponderação, e que demonstrou não ter o temperamento adequado para liderar um país como os Estados Unidos da América.
No final, a vitória da candidata democrata é inquestionável, mas o debate esteve à altura das expectativas e, por isso, se foi possível mudar a opiniões no grupo dos indecisos, o mesmo não foi possível fazer com os apoiantes fervorosos de Trump. E muito dificilmente será possível. No fundo, Hillary Clinton pode ter saído a ganhar, mas isso não significa, necessariamente, que Trump tenha perdido.
Fotografia: REUTERS/Mike Segar
Originalmente publicado em: A Drogaria

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